A história de Raymond Goethals, o treinador belga que o São Paulo não soube aproveitar
O visual despreocupado de Raymond Goethals ficou marcado na memória dos torcedores de futebol da década de 1990.
Aos 71 anos, o treinador belga, conhecido pela sua franqueza, levou o Olympique de Marseille ao topo do futebol europeu, ao vencer a Liga dos Campeões frente ao AC Milan.
Seja por sua personalidade ou seu histórico de realizações, Raymond Goethals tinha uma maneira única de liderar um time e não se parecia em nada aos outros treinadores.
Nascido em 7 de outubro de 1921, em Forest, na Bélgica, Raymond Goethals iniciou sua carreira como goleiro do Daring Bruxelas.
Após a Segunda Guerra Mundial, mudou de clube pela primeira vez, juntando-se ao vizinho Racing Bruxelles. Em 1957, finalizou sua trajetória como jogador, aos 36 anos, depois de passar pelo RFC Hannut e pelo RAS Ronse.
Em 1957, comandou o Stade Waremme por dois anos, antes de ingressar na equipe do Saint-Trond, levando o time ao segundo lugar no campeonato, mesmo com recursos muito limitados.
Em 1966, foi convidado a formar parte da equipe técnica da seleção belga, como assistente, ao lado do treinador Constant Vanden Stock. Dois anos depois, assumiu o comando do grupo e classificou a equipe para a Copa do Mundo.
No entanto, os Red Devils terminaram em terceiro lugar na fase de grupo, atrás da União Soviética, do México e à frente de El Salvador. Apesar da decepção, o time levantou a cabeça e, dois anos depois, chegou à semifinal do Campeonato da Europa.
Em 1976, Raymond Goethals deixou a seleção, após 44 partidas, 25 vitórias, 8 empates e 11 derrotas. Ele ingressou, então, no clube de maior prestígio do país: o RSC Anderlecht.
Em 1976, venceu a Supercopa Europeia contra o Bayern de Munique e levou os Violets à final da Copa dos Campeões da Europa de 1976-1977. No ano seguinte, em 1978, venceu a competição no Parc des Princes, derrotando o Austria Vienna, por 4 a 0.
Depois disso, ingressou no clube Girondins de Bordeaux, que passava por grandes dificuldades no campeonato. Durante a temporada, conseguiu levar o time ao sexto lugar na liga, com 13 vitórias, em 25 jogos. Em seguida, deixou o clube para ir ao Aimé Jacquet, com o qual conquistou vários títulos.
A reputação de Raymond Goethals ganhou destaque internacional e, assim, o treinador foi contratado para comandar o São Paulo FC, em 1980. Foram 13 vitórias em 23 partidas. Logo depois, partiu para a Bélgica e entrou para o Standard de Liège.
Em 1980, Raymond Goethals foi convidado pelo São Paulo para ser uma espécie de conselheiro da equipe. Na intenção de também aprender com o time brasileiro, ele aceitou. No entanto, ficou apenas dois meses no Brasil. Segundo o site UOL, o então treinador do São Paulo, Carlos Alberto Silva, tinha ciúmes dele naquele cargo.
Na foto, o jogador Garrincha e o técnico Carlos Alberto Silva.
Mais uma vez, o treinador levou a sua equipa ao topo, com dois títulos nacionais, em 1982 e 1983, e uma final da Copa dos Campeões da Europa, perdendo por 2 a 1, para o Barcelona. Em 1984, foi obrigado a renunciar, devido ao envolvimento em um escândalo de corrupção.
Em seguida, mudou-se para Portugal, para o Vitória de Guimarães. Depois, tornou-se diretor técnico da Racing Jet, em Bruxelas, antes de regressar ao Anderlecht, com quem conquistou duas novas Taças da Bélgica.
Em 1989, retornou ao Girondins de Bordeaux, que estava novamente em dificuldades. Com sua incrível capacidade de liderança, levou-os ao segundo lugar no campeonato e, depois, assinou com um novo clube: o Olympique de Marseille, de Bernard Tapie, em 1991.
Em sua primeira temporada no OM, chegou à final da Copa da Europa, contra o Belgrado, mas perdeu nos pênaltis. Foi eleito o melhor treinador europeu do ano e recebeu o troféu Banc d'Or, depois de ganhar o campeonato francês.
Em 1992, tornou-se diretor esportivo, mas voltou a ser técnico, depois de quatro meses, e conquistou o campeonato com um recorde de apenas 21 gols sofridos.
O ano de 1993 foi, sem dúvida, o mais importante de sua carreira. Após uma campanha fantástica, o OM venceu a Liga dos Campeões, contra o grande AC Milan, por 1 a 0. Ele era o treinador mais velho da história da competição, com 71 anos.
Depois desse enorme sucesso, voltou para a Bélgica, mas interrompeu sua carreira, algumas temporadas depois. Raymond Goethals morreu de câncer, em 6 de dezembro de 2004. Na ocasião, foram prestadas inúmeras homenagens a ele, incluindo Bruxelas e Marselha.
Mais do que um excelente treinador, Raymond Goethals era, acima de tudo, um personagem carismático.
Apelidado de "o mago belga", em sua carreira, conquistou quatro Copas da Europa (incluindo duas Supercopas), com Anderlecht e OM, dois campeonatos belgas e dois títulos franceses D1. Uma lenda do futebol!