Messi ou Maradona, quem é o melhor?
Neste debate quente e inesgotável, acrescenta-se agora uma nova variável: o fato de Lionel Messi, finalmente, haver conseguido ganhar uma Copa do Mundo. Na galeria, analisamos argumentos, estatísticas e outros dados.
Foram muitas as vozes que sustentaram com firmeza que Messi nunca estaria no nível de Maradona porque faltava a sua Copa do Mundo. "El Diego" havia levantado a desejada taça no México, em 1986, com momentos tão inesquecíveis como "a mão de Deus".
Mas a terceira estrela na camisa, almejada por toda a Argentina, finalmente chegou. E Messi imitou Maradona quando subiu nos ombros de outro jogador, no estádio Lusail, em Doha.
A comparação entre os dois é, na verdade, complicada, tendo em conta que viveram épocas e formas diferentes de ver e jogar futebol.
Segundo o site TransferMarkt.es, Diego Armando Maradona disputou, ao longo de sua carreira (de 1977 a 1994), um total de 90 jogos pela seleção albiceleste, das quais saiu vencedor em 42 (46,7% do total). Sua estreia foi aos 16 anos, 3 meses e 28 dias.
Maradona participou de quatro Copas do Mundo (das quais venceu uma): Espanha 1982, México 1986, Itália 1990 e Estados Unidos 1994. Também jogou em três Copas América (onde nunca foi vitorioso): 1979, sem sede fixa; Argentina 1987 e Brasil 1989.
Já Lionel Messi estreou, profissionalmente, nos campos, aos 18 anos, 1 mês e 24 dias. De 2005 a 2022, disputou um total de 172 jogos pela Argentina, dos quais conquistou a vitória em 103 (59,9% do total).
Messi esteve em cinco Copas do Mundo (das quais ganhou uma): Alemanha 2006, África do Sul 2010, Brasil 2014, Rússia 2018 e Qatar 2022. Também fez parte da seleção argentina em seis Copas América (das quais também ganhou uma): Venezuela 2007, Argentina 2011, Chile 2015, Estados Unidos 2016, Brasil 2019 e Brasil 2021.
Quanto aos gols com a Argentina, Maradona marcou um total de 29 assim distribuídos: 8 em 21 jogos em Copas do Mundo; 4 em 12 jogos na Copa América; 3 em 8 partidas de qualificação para a Copa do Mundo; e 14 gols em 38 amistosos.
No caso de Messi, os 98 gols que ele marcou ao longo de sua carreira com a seleção foram: 13 gols em 26 partidas da Copa do Mundo; 13 em 34 jogos da Copa América; 28 em 60 partidas de qualificação para a Copa do Mundo; e 44 gols em 51 amistosos.
Assim, Maradona registrou 0,32 gol por jogo, enquanto Messi chegou a 0,57. Portanto, pode-se dizer que este tem sido mais eficiente como artilheiro.
E Messi não só ganha em termos de coeficiente, como também é o maior artilheiro da seleção argentina em Copas do Mundo, com 13 gols. Maradona está em sexto, atrás do próprio Messi, Batistuta, Agüero, Hernán Crespo e Gonzalo Higuain.
No caso das assistências para gols, Maradona somou 14 com a Seleção (8 em Copas, 1 em eliminatórias e 5 em amistosos), enquanto Messi chegou a 55 (8 em Copas, 17 tanto na Copa América quanto em amistosos e 11 nas eliminatórias).
Tratando-se de títulos com a seleção nacional, Maradona reuniu o da Copa de 1986 no México (como líder absoluto daquela seleção), a Taça Artemio Franchi de 1993 e o Mundial Sub-20 do Japão, em 1979.
Um recorde que, no entanto, fica abaixo do alcançado por Leo Messi. Além da Copa do Mundo 2022, ele também pode se orgulhar de ter conquistado a Copa América 2021, a medalha de ouro olímpica em 2008 e um Mundial Sub-20 em 2005.
Quanto às suas equipes, Diego Armando Maradona jogou pelo Argentinos Juniors (1976-1980), pelo Boca Juniors (1981-1984), pelo FC Barcelona (1982-1984), pelo Napoli (1984-1992), pelo Sevilla (1992-1993). ), Newel's Old Boys (1993-1994) e, novamente -e para encerrar sua carreira- no time de sua vida, Boca Juniors (1995-1998).
Já Leo Messi deixou as categorias de base do Barcelona e defendeu o time por 17 temporadas, entre 2004 e 2021, para acabar indo para o PSG, em 2021.
Com relação aos títulos conquistados com clubes, a diferença também é importante. Maradona conquistou um Campeonato Metropolitano com o Boca Juniors, uma Copa del Rey, uma Copa da Liga e uma Supercopa da Espanha com o FC Barcelona; e duas ligas italianas, uma Copa da UEFA, uma Copa e uma Supercopa da Itália com o Napoli.
O histórico de Messi em clubes é muito mais amplo. Com o FC Barcelona conquistou 10 Ligas de Espanha, 7 Taças do Rei, 8 Supertaças de Espanha, 4 Champions League, 3 Supertaças da Europa e 3 Mundiais de Clubes. Ele também ganhou uma Ligue 1 e uma Supercopa da França com o PSG.
Maradona foi o melhor marcador oito vezes, com diferentes times, ganhou a Bola de Ouro honorária em 1995, o Jogador do Século da Fifa em 2000, o Golden Foot Legend em 2003 e o prêmio de melhor jogador do século XX, por votação online, em 2000, entre outras distinções.
Messi, por sua vez, pode orgulhar-se de ser o jogador com o maior número de Bolas de Ouro da história, com um total de 6 (2009, 2010, 2011, 2012, 2015, 2019 e 2021), além de outros prêmios como FIFA 2009, Prêmio The Best 2019, Laureus 2020, Chuteira de Ouro em 2010, 2012, 2013, 2017, 2018 e 2019.
Maradona disputou um total de 589 jogos entre todos os seus clubes, nos quais marcou 311 gols e fez 211 assistências, com uma média de 0,53 gols por jogo.
No caso de Messi, com o FC Barcelona e o PSG (e até à data em que levantou a Copa do Mundo) disputou 831 jogos, com um saldo de 695 gols e 297 assistências. Sua média de pontuação, bem acima da de Maradona, é de 0,84.
Mas onde está o sentimento puro? Essa é uma questão bem diferente e longe de números, porque Maradona, para a maioria dos argentinos, sempre foi 'Deus', ou 'D10S', em referência ao número pelo qual ficou na história e que Messi herdou.
Maradona sempre teve a torcida ao seu lado, a ponto de tornar-se um verdadeiro símbolo e um "herói do esporte" para a Argentina. Música, arte e até uma igreja foram feitas sobre isso.
“No momento em que Maradona aposentou-se do futebol, ele deixou a Argentina traumatizada. Maradona foi mais do que um grande jogador de futebol. Foi um fator de compensação extraordinário para um país que, em poucos anos, viveu várias ditaduras militares e frustrações sociais de toda ordem”, escreveu Jorge Valdano, jogador, técnico e teórico do futebol nascido na Argentina e radicado na Espanha.
Valdano, que foi colega de Maradona na seleção, também afirma que o craque "foi uma válvula de escape para a frustração coletiva e por isso as pessoas o adoram como uma figura divina".
Por sua vez, a trajetória de Messi e sua ligação sentimental com o país onde nasceu é muito diferente. Ele mudou-se, aos 13 anos, para a Espanha, ou seja, cresceu na Europa.
Ao fato de deixar o seu país tão cedo, somou-se a crise dos resultados que viveu a equipe da qual Messi, muito jovem, foi participante. Além disso, ele é uma pessoa tímida, diferente de Maradona.
Enquanto não parava de conquistar títulos com o FC Barcelona, Messi emendava fracassos com o time argentino, o que o levou a ser acusado de não jogar com o mesmo entusiasmo.
Messi chegou a anunciar que não voltaria a jogar pela Argentina depois de perder na fase final da Copa do Mundo de 2014 e nas edições de 2015 e 2016 da Copa América. Uma decisão que a única coisa que causou foi um aumento das críticas.
No entanto, mudou de ideia. Voltou para a seleção e o que fez com ela entrou para a história. Chegou à final da Copa do Mundo de 2014 no Brasil, conquistou a Copa América em 2021 e acabou se consagrando rei absoluto com a Copa do Mundo de 2022.
Os argentinos poderão desfrutar um pouco mais de Messi, já que, depois de vencer a Copa do Mundo, ele declarou à mídia: "Quero continuar vivendo mais alguns jogos sendo campeão mundial".
O que é indiscutível é que tanto Messi quanto Maradona mostraram duas formas diferentes de elevar um esporte à categoria de arte.